O Sacramento da Confissão – Se estivermos verdadeiramente arrependidos e confessarmos nossos pecados, Deus nos perdoa:
Se confessarmos nossos pecados, Ele, que é fiel e justo, perdoará nossos pecados e nos purificará de toda injustiça. (1 Jo 1, 9)
Mas como os pecados devem ser confessados? Devemos confessar os pecados orando direto para Deus? A verdade é que em nenhum lugar da Sagrada Escritura encontramos a orientação de nos confessarmos diretamente com Deus, pelo contrário, a orientação é:
Confessai, pois, uns aos outros, os vossos pecados e orai uns pelos outros, para que sejais curados. (Tg 5, 16)
Repare a forma imperativa, não é uma opção. Uma vez entendido isso, a questão é, se devemos nos confessar uns com os outros, com quem especificamente devemos nos confessar? Os textos bíblicos são claros:
À tarde desse mesmo dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas onde se achavam os discípulos, por medo dos judeus, Jesus veio e, pondo-se no meio deles, lhes disse: “A paz esteja convosco!” Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então, ficaram cheios de alegria por verem o Senhor. Ele lhes disse de novo: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, também eu vos envio“. Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes disse: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão retidos”. (Jo 20, 19-23)
Algumas seitas protestam: “Como um homem pode perdoar os pecados?”, mas não há dúvidas, o próprio Jesus atribuiu aos seus Apóstolos a autoridade de perdoar os pecados em Seu Nome. É obvio que Jesus sabia que eles eram homens pecadores e ainda assim lhes conferiu este poder. Ele quis que assim fosse, e não nos cabe, por capricho nosso, desejar que fosse de outra maneira. Nos Atos dos Apóstolos podemos conferir que tal ordem de Jesus foi colocada em prática desde o início da Igreja:
Muitos dos que haviam abraçado a fé começaram a confessar e a declarar suas práticas. (Atos 19,18)
Aqueles que abraçavam a fé, iam até os Apóstolos e confessavam seus pecados, para que assim fossem perdoados, pois este foi o método que Deus desejou usar para nos perdoar. Por isso, de forma ininterrupta, foi assim que em todos os séculos da Igreja os pecados dos fiéis foram perdoados, e isso permanece até os dias de hoje.
Jesus subiria para junto do Pai e não seria mais visível, então foi preciso deixar ao povo lideranças visíveis da Igreja, agindo com o poder do Deus invisível, os Apóstolos foram Seus representantes visíveis na Terra: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. Deus enviou Jesus, Jesus enviou Seus Apóstolos.
A partir daqui, se faz necessário abordar a continuação dessa representação visível da Igreja na história, a qual conhecemos por Sucessão Apostólica. Logicamente não faria sentido Jesus oferecer essa graça somente aos homens daquela geração, foi necessário que os cristãos de todos os tempos e lugares também pudessem ter acesso a homens com autoridade para perdoar seus pecados, além de ministrar os demais sacramentos, transmitir os ensinamentos de Cristo, ensinar a correta interpretação das Escrituras, entre outras coisas. Além do mais, em nenhum lugar da Bíblia está escrito que essa autoridade dada por Jesus cessaria com a morte dos Apóstolos.
Contudo, a Sucessão Apostólica é um fato histórico comprovado em documentos dos primeiros séculos da Igreja (Patrística), mas na própria Bíblia isso já pode ser observado, por exemplo nos Atos dos Apóstolos, vemos o início da Sucessão Apostólica; Como o Apóstolo Judas Iscariotes suicidou-se, os Apóstolos se reuniram e elegeram Matias para o seu lugar, Matias sucedeu Judas:
Irmãos, era preciso que se cumprisse a Escritura em que, por boca de Davi, o Espírito Santo havia de antemão falado a respeito de Judas, que se tornou o guia daqueles que prenderam a Jesus. Ele era contado entre os nossos e recebera sua parte neste ministério. […] É necessário, pois, que, dentre estes homens que nos acompanharam todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu em nosso meio, a começar do batismo de João até o dia em que dentre nós foi arrebatado, um destes se torne conosco testemunha da sua ressurreição. Apresentaram então dois: José, chamado Barsabás e cognominado Justo, e Matias. E fizeram esta oração: “Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, mostra-nos qual destes dois escolheste para ocupar o lugar que Judas abandonou, no ministério do apostolado, para dirigir-se ao lugar que era o seu”. Lançaram sortes sobre eles, e a sorte veio a cair em Matias, que foi então contado entre os doze apóstolos. (Atos 1,16-17; 21-26)
O livro dos Atos dos Apóstolos nos narra que os apóstolos organizavam Igrejas por onde passavam e designavam anciãos (líderes / presbíteros) para elas:
Em cada Igreja designaram anciãos e, depois de terem orado e jejuado, confiaram-nos ao Senhor, em quem tinham crido. (Atos 14, 23)
Os Apóstolos estabeleciam as regras a serem observadas pelas Igrejas, ordenando com toda autoridade a eles conferida por Cristo:
Ao passarem pelas cidades, transmitiam-lhes, para que as observassem, as decisões sancionadas pelos apóstolos e anciãos de Jerusalém. Assim as Igrejas eram confirmadas na fé e cresciam em número, de dia para dia. (Atos 16, 4-5)
De resto, viva cada um segundo a condição que o Senhor lhe assinalou em partilha e na qual ele se encontrava quando Deus o chamou. É o que prescrevo em todas as Igrejas. (1Coríntios 7, 17)
Os Apóstolos nomeavam presbíteros, posteriormente, os presbíteros já ordenados também passaram a nomear novos presbíteros para as Igrejas. Veja que Paulo menciona a ordenação de Timóteo como presbítero através da imposição das mãos que lhe foi feita, e o exorta a não instituir qualquer pessoa como novo presbítero, Paulo também o instrui de como agir com os novos presbíteros ordenados (Em algumas traduções presbitério pode aparecer como colégio de presbíteros ou conselho de anciãos, que são expressões sinônimas):
Não descuides do dom da graça que há em ti, que te foi conferido mediante profecia, junto com a imposição das mãos do presbitério. (1Timóteo 4, 14).
Os presbíteros que exercem bem a presidência são dignos de dupla remuneração, sobretudo os que trabalham no ministério da palavra e na instrução. Com efeito, diz a Escritura: Não amordaçarás o boi que debulha. E ainda: O operário é digno do seu salário. Não aceites denúncia contra um presbítero senão sob o depoimento de duas ou três testemunhas. Repreende os que pecam, diante de todos, a fim de que os demais temam. Conjuro-te, diante de Deus e de Cristo Jesus e dos anjos eleitos, que observes estas regras sem preconceito, nada fazendo por favoritismo. A ninguém imponhas apressadamente as mãos, não participes dos pecados de outrem. A ti mesmo, conserva-te puro. (1Timóteo 5, 17-22)
Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus. O que de mim ouviste na presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para ensiná-lo a outros. (2Timóteo 2, 1-2)
Temos aqui a indicação de que ninguém podia sair por aí se autoproclamando Apóstolo, Bispo, etc, como hoje fazem os pastores protestantes. Para que alguém fosse nomeado presbítero de forma válida, deveria o aspirante ser ordenado: ou por um próprio Apóstolo; ou por presbíteros ordenados por outros presbíteros até se chegar aos Apóstolos. A esta legítima linha de sucessão chamamos de Sucessão Apostólica.
O mesmo ocorre com Tito, que também sendo um presbítero, é enviado por Paulo para organizar as igrejas e instituir novos presbíteros:
Eu te deixei em Creta para cuidares da organização e ao mesmo tempo para que constituas presbíteros em cada cidade, (Tito 1, 5)
Observemos que o celibato, mesmo sendo recomendado por Paulo na época (cf. I Coríntios 7 1. 7-9; 25-28; 32-35) e comentado pelo próprio Jesus (cf. Mt 19, 11-12), não foi obrigatório para os sacerdotes em todos os tempos da Igreja. Os novos convertidos aspirantes ao episcopado, provavelmente muitos deles já eram casados quando se converteram, assim como o Apóstolo Pedro já era casado quando começou a seguir Jesus, por isso, naquela época, o celibato seria uma exigência incabível para a realidade da Igreja que nascia, contudo, Paulo ao invés de exigir, apenas recomendava o celibato.
Hoje em dia entendemos a beleza do celibato para o sacerdote, que seguindo o próprio Cristo como exemplo, se abstêm de ser pai de família para entregar 100% de sua vida às coisas de Deus e aos assuntos da Igreja, como o próprio Paulo recomendou. Lembrando que é uma escolha do fiel: ou ajudar a Igreja e ser pai de família ao mesmo tempo, ou entregar sua vida inteiramente a Deus. Ninguém é obrigado a ser sacerdote e viver o celibato.
Raciocinemos, o fato dos primeiros presbíteros não serem celibatários não os invalida como presbíteros devidamente ordenados daquela época, muito menos invalida a ordenação de seus sucessores que viveram o celibato, assim como o fato do Apóstolo Pedro ter sido casado não o invalida como primeiro líder da Igreja, nem invalida a liderança de seus sucessores que viveram o celibato, um fato histórico não anula o outro. Retornemos aos textos em Tito:
Eu te deixei em Creta para cuidares da organização e ao mesmo tempo para que constituas presbíteros em cada cidade, cada qual devendo ser, como te prescrevi, homem irrepreensível, esposo de uma única mulher, cujos filhos tenham fé e não possam ser acusados de dissolução nem de insubordinação. Porque é preciso que, sendo ecônomo das coisas de Deus, o epíscopo seja irrepreensível, não presunçoso, nem irascível, nem beberrão ou violento, nem ávido de lucro desonesto, mas seja hospitaleiro, bondoso, ponderado, justo, piedoso, disciplinado, de tal modo fiel na exposição da palavra que seja capaz de ensinar a sã doutrina como também de refutar os que a contradizem. (Tito 1, 5-9)
A continuação desse mesmo texto nos mostra que já naquele tempo, haviam pessoas que ensinavam doutrinas erradas com o objetivo de lucrar financeiramente, assim como vemos em nossos tempos, muitos falsos pastores que enganam tantos humildes:
Com efeito, há muitos insubmissos, palavrosos e enganadores, especialmente no partido da circuncisão, aos quais é preciso calar, pois estão pervertendo famílias inteiras, e, com objetivo de lucro ilícito, ensinam o que não têm direito de ensinar. Um dos seus próprios profetas disse: “Os cretenses são sempre mentirosos, animais ferozes, comilões vadios”. “Este testemunho é verdadeiro; repreende-os, portanto, severamente, para que sejam sãos na fé, e não fiquem dando ouvidos a fábulas judaicas ou a mandamentos de homens desviados da verdade. Para os puros, todas as coisas são puras; mas para os impuros e descrentes, nada é puro: tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas. Afirmam conhecer a Deus, mas negam-no com os seus atos, pois são abomináveis, desobedientes e incapazes para qualquer boa obra. (Tito 1,10-16)
É oportuno observar que eram severamente repreendidos pelos Apóstolos os que se desviavam da verdade, pregando doutrinas diferentes que divergiam da sã doutrina ensinada por Cristo:
Esta é a instrução que te confio, Timóteo, meu filho, segundo as profecias pronunciadas outrora sobre ti: combate, firmado nelas, o bom combate, com fé e boa consciência; pois alguns, rejeitando a boa consciência, vieram a naufragar na fé. Dentre esses se encontram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, a fim de que aprendam a não mais blasfemar. (1Timóteo 1, 18-20)
…entre os quais se acham Himeneu e Fileto. Eles se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição já se realizou; estão pervertendo a fé de vários. (2Timóteo 2,17-18)
Voltando à Sucessão Apostólica, Paulo deixou muitas recomendações aos novos presbíteros ordenados, com o objetivo de prepará-los bem (Lembremos que a questão do celibato já foi abordada acima):
Fiel é esta palavra: se alguém aspira ao episcopado, boa obra deseja. É preciso, porém, que o epíscopo seja irrepreensível, esposo de uma única mulher, sóbrio, cheio de bom senso, simples no vestir, hospitaleiro, competente no ensino, nem dado ao vinho, nem briguento, mas indulgente, pacífico, desinteresseiro. Que ele saiba governar bem a sua própria casa, mantendo os seus filhos na submissão, com toda dignidade. Pois se alguém não sabe governar bem a própria casa, como cuidará da Igreja de Deus? Que ele não seja um recém-convertido, a fim de que não se ensoberbeça e incorra na condenação que cabe ao diabo. Além disso, é preciso que os de fora lhe deem um bom testemunho, para não cair no descrédito e nos laços do diabo. Os diáconos igualmente devem ser respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados ao vinho, sem cobiçar lucros vergonhosos, conservando o mistério da fé com uma consciência limpa. Também estes sejam primeiramente experimentados e, em seguida, se forem irrepreensíveis, sejam admitidos na função de diáconos. Também as mulheres devem ser respeitáveis, não maldizentes, sóbrias, fiéis em todas as coisas. Que os diáconos sejam esposos de uma única mulher, governando bem os seus filhos e a sua própria casa. Pois aqueles que exercem bem o diaconato conquistam para si mesmos um posto de honra, bem como muita intrepidez fundada na fé em Cristo Jesus. Escrevo-te estas coisas esperando encontrar-te dentro em breve. Todavia, se eu tardar, saberás como proceder na casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo: coluna e sustentáculo da verdade. Seguramente, grande é o mistério da piedade: Ele foi manifestado na carne, justificado no Espírito, contemplado pelos anjos, proclamado às nações, crido no mundo, exaltado na glória. (1Timóteo 3, 1-16)
Cada nova Igreja tinha seus presbíteros devidamente ordenados, eram esses sucessores dos apóstolos que perdoavam os pecados dos fiéis na época, e de forma ininterrupta, a Sucessão Apostólica perpassa por todos os séculos da Igreja, perdoando os pecados dos fiéis em toda a história, e assim até os dias atuais, os bispos da Igreja são sucessores dos apóstolos e os sacerdotes seus colaboradores.
É esse poder dado pelo próprio Cristo aos apóstolos, que herdaram os padres da Igreja devidamente ordenados.
Vejamos agora fora das escrituras, alguns registros históricos dos primeiros séculos do cristianismo, com exemplos de como este sacramento sempre foi celebrado na história da Igreja:
Confessar-se na Igreja antes de receber o corpo de Cristo. (Didaqué, ano 70)
…declarando o seu pecado ao sacerdote do Senhor. (Orígenes, ano 244)
Água e lágrimas não faltam na Igreja: a água do batismo e as lágrimas da penitência (Confissão). (Santo Ambrósio, ano 395)
Que ninguém diga: cumpro a penitência secretamente diante de Deus. Acaso foi dito sem motivo: ‘O que desatares na terra será desatado no céu’? (Santo Agostinho, ano 430)
Como vimos, a Bíblia nos mostra que Jesus atribuiu aos seus Apóstolos a autoridade de perdoar os pecados, e nos mostra quem são seus sucessores devidamente ordenados. Ele quis que assim fosse, por isso a Igreja coloca em prática essa ordem de Jesus desde as suas origens. Desfrute você também desse presente deixado a nós por Nosso Senhor Jesus Cristo, faça um bom exame de consciência, arrependa-se de todos teus pecados e procure um sacerdote devidamente ordenado pela Igreja. Deixe que a graça do perdão de Deus caia sobre sua alma e desfrute da infinita misericórdia de Deus.
Não tenhas medo de abeirar-te da Confissão: neste sacramento, encontras Jesus que te perdoa. (Papa Francisco)
Recomendamos que assistam abaixo os ótimos vídeos do Padre Leonardo Henrique Wagner e Padre Paulo Ricardo sobre o Sacramento da Confissão:
Um dos problemas mais falados sobre a Confissão é a dificuldade em confessar os pecados. Essa dificuldade vem por dois motivos: falta de Padres para atender os fiéis e por causa da vergonha de contar os pecados ao sacerdote. Nesse breve vídeo é sugerido algumas soluções, já consagradas pela tradição da Igreja, para tentar resolver esse problema:
Para finalizar, todo sacramento possui uma matéria, elementos que tornam possível a sua celebração e dos quais depende a sua própria validade. A matéria do Batismo, por exemplo, é a água; a da Eucaristia, o pão e o vinho… Mas e quanto à Confissão, em que não se percebe nenhum sinal material visível, onde está a sua matéria?
Referências: Veritatis Splendor e OCatequista.
Vídeos: Padre Leonardo Henrique Wagner e Padre Paulo Ricardo.