É correto ajoelhar-se perante algo que não é Deus?
É correto ajoelhar-se perante algo que não é Deus?
“Josué rasgou suas vestes e prostrou-se com a face por terra até a tarde diante da arca do Senhor, tanto ele como os anciãos de Israel, e cobriram de pó as suas cabeças.” (Js 7, 6)
“Abraão levantou os olhos e viu três homens de pé diante dele [anjos]. Levantou-se no mesmo instante da entrada de sua tenda, veio-lhes ao encontro e prostrou-se por terra.” (Gn 18, 2)
“Moisés saiu ao encontro de seu sogro, prostrou-se e beijou-o. Informaram-se mutuamente sobre a sua saúde e entraram na tenda.” (Ex 18, 7)
“Davi, tendo levantado os olhos, viu o anjo do Senhor que estava entre o céu e a terra, com uma espada desembainhada em sua mão, dirigida contra Jerusalém. Então Davi e os anciãos, cobertos de sacos, prostraram-se com o rosto por terra.” (I Cr 21, 16)
“Acordou o carcereiro e, vendo abertas as portas do cárcere, supôs que os presos haviam fugido. Tirou da espada e queria matar-se. Mas Paulo bradou em alta voz: Não te faças nenhum mal, pois estamos todos aqui. Então o carcereiro pediu luz, entrou e lançou-se trêmulo aos pés de Paulo e Silas.” (At 16, 27-29)
Assim como é um erro acusar Josué (que se prostrou perante a arca da aliança), Abraão, Moisés, Davi e os anciãos de idólatras por terem se prostrado diante de algo que não é Deus, também é um erro acusar de idolatria alguém que se prostra diante de uma imagem sacra que sabe perfeitamente que são representações, seja de Cristo, seja de alguma criação de Deus. O ato de ajoelhar-se diante de algo sem a intenção de adoração, é uma forma de demonstrar respeito, humildade, reverência, veneração e admiração, lembremos que adorar uma imagem é fazer dela um ídolo, algo (objeto ou criatura) que é colocado no lugar de Deus, ou seja, um falso deus, e a Igreja nunca ensinou tal prática. Para nós católicos, as imagens não têm o mesmo significado que tinham para os pagãos, que as consideravam realmente como deuses.
“O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem.” (Santo Tomás de Aquino, S. Th. II-II, 81,3, ad 3, Século XIII).
Por exemplo, prostrar-se diante de uma imagem de Nossa Senhora, é na realidade prostrar-se diante da própria Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, e quem não prestaria semelhante reverência diante da única pessoa que carregou o próprio Deus em seu ventre materno? A mesma reverência nós prestamos diante de imagens dos anjos e daqueles que foram grandes exemplos de fiéis seguidores de Cristo na terra, os santos, ambos dignos de nossa mais sincera veneração, admiração e respeito. Nas Sagradas Escrituras encontramos diversas outras passagens com reverência semelhante, vejamos algumas:
“Quando Davi chegou perto de Ornã, este o viu; saiu da eira e se prostrou diante de Davi, com o rosto contra a terra.” (I Cr 21, 21)
“E ele [Jacó], passando adiante, prostrou-se até a terra sete vezes antes de se aproximar do seu irmão. Mas Esaú correu-lhe ao encontro e beijou-o; ele atirou-se ao seu pescoço e beijou-o; e puseram-se a chorar. Levantando os olhos, Esaú viu as mulheres e as crianças: ‘Quem são estes que tens contigo?’, perguntou ele. ‘São, respondeu Jacó, os filhos que aprouve a Deus dar ao teu servo.’ Aproximaram-se então as servas com seus filhos e prostraram-se. Lia com seus filhos adiantaram-se por sua vez e prostraram-se, e, enfim, José e Raquel, que se prostraram também.” (Gn 33, 3-7)
“e me prostro voltado para o teu sagrado templo. […] ” (Sl 138 [137], 2)
Observação: Lembremos que o templo citado na ultima passagem, era repleto de imagens por dentro e por fora, e que os moldes e características do templo foram prescritos pelo próprio Deus. Continuando:
“[…] Enquanto Manué e sua mulher olhavam subir para o céu a chama do sacrifício que estava sobre o altar, viu que o anjo do Senhor subia na chama. À vista disso, Manué e sua mulher caíram com o rosto por terra.” (Jz 13, 19-20)
“Então ela veio e lançou-se aos pés de Eliseu, prostrando-se por terra. Em seguida tomou o filho e saiu.” (II Rs 4, 37)
“Então o Senhor abriu os olhos de Balaão, e ele viu o anjo do Senhor que estava no caminho com a espada desembainhada na mão. Inclinou-se e prostrou-se com a face por terra.” (Nm 22, 31)
“Quando Abigail avistou Davi, desceu prontamente do jumento e prostrou-se com o rosto por terra diante dele.” (I Sm 25, 23)
“Depois disse Davi a toda a assembléia: Bendizei ao Senhor, nosso Deus. E toda a assembléia bendisse ao Senhor, o Deus de seus pais, inclinando-se e prostrando-se diante do Senhor e diante do rei.” (I Cr 29, 20)
Perceba que esta ultima passagem nos mostra dois atos parecidos, porém com sentidos e razões diferentes: eles se prostram a Deus, para adorá-lo, mas também ao Rei, para reverenciá-lo. Deus em momento algum se enfureceu com aquilo e não os repreendeu. É oportuno observar que, na Bíblia, quando o ato de prostrar-se é recusado, é identificado com clareza nos textos bíblicos que o problema não está em se prostrar, mas em se prostrar para adorar:
“Prostrei-me aos seus pés para adorá-lo, mas ele me diz: Não faças isso! Eu sou um servo, como tu e teus irmãos, possuidores do testemunho de Jesus. Adora a Deus. Porque o espírito profético não é outro que o testemunho de Jesus.” (Ap 19, 10)
Vemos que o anjo percebeu a intenção de João, por isso o repreendeu para que ali não houvesse um ato indevido de adoração, que cabe somente a Deus. A seguir, vemos uma situação semelhante:
“Quando Pedro estava para entrar, Cornélio saiu a recebê-lo e prostrou-se aos seus pés para adorá-lo. Pedro, porém, o ergueu, dizendo: Levanta-te! Também eu sou um homem!” (At 10, 25-26)
Conforme bem especificado no texto, a prostração de Cornélio não foi uma simples reverência, mas tinha a clara intenção de adoração.
Concluindo, é correto ajoelhar-se perante algo que não é Deus, quando não há a intenção de adoração no coração daquele que o faz, ou seja, quando o receptor do ato não é colocado no lugar de Deus, como um ídolo, um falso deus, por isso a Igreja não repreende quando tal reverência é realizada à imagem sacra, ao sacerdote, às relíquias dos santos, ao altar, etc. A Igreja nos ensina a realizar tal ato com a intenção de veneração, respeito, humildade, reverência, admiração e não adoração.
Fonte: Católico Responde.
Como próximo passo, recomendamos a leitura do estudo a seguir, onde mais questões das imagens e da idolatria são abordadas e respondidas de forma completa, como por exemplo: É possível Deus agir (proteger, curar, etc) por intermédio das imagens? Os primeiros cristãos eram adeptos de imagens sacras? Quando começaram os protestos sobre o uso de imagens e por quê? Por que os protestantes da modernidade também acusam a Igreja Católica de adorar imagens? e mais: