Veritatis Catholicus

Por que peço a Deus e não sou atendido?

 
Jesus Cristo fez-nos a seguinte promessa: “Em verdade, em verdade vos digo:  se pedirdes alguma coisa a meu Pai, em meu nome, Ele vo-la dará” (Jo 16,23). Muitos, diz São Tiago, pedem e não recebem, porque pedem mal: “Pedis e não recebeis porque pedis mal” (Tg 4,3). São Basílio, explicando as palavras do Apóstolo, diz: “Pedes e não recebes, porque tua oração foi mal feita ou sem fé, sem devoção ou desejo; ou porque pediste coisa que não se referia à tua salvação eterna, ou pediste sem perseverança”. Para a obtenção dos frutos da oração é preciso pedir para si coisas necessárias à salvação, com devoção e perseverança.

 

São Basílio, apoiado nos textos da Sagrada Escritura, ensina ter a oração infalivelmente o seu efeito, ainda que se reze pelos outros, pois está escrito: “Orai uns pelos outros, para serdes salvos, porquanto muito vale a oração perseverante do justo”. (Tg 5,16). “Rezai pelos que vos perseguem e caluniam” (Mt 5, 44). “Se alguém vir seu irmão cometer um pecado, que não é de morte, peça e será concedida a vida àquele cujo pecado não é de morte” (1 Jo 5,16). As palavras: “Cujo pecado não é de morte”, Santo Agostinho, Beda, Ambrósio e outros explicam que se devem entender do pecador, que não quer viver obstinado até a morte. Se alguém rezar por eles, promete-lhe, o Apóstolo, a conversão deles: “Peça e será dada a vida ao pecador”.

 

Não se duvida, que as orações que fazemos pelos outros, principalmente pelos pecadores, sejam muito agradáveis a Deus. O Senhor queixa-se de seus servos, que não rezam pelos pecadores. Um dia, lamentava-se Nosso Senhor a Santa Maria Madalena de Pazzi, a quem disse: “Vede, minha filha, como caem os cristãos nas mãos do demônio; se os meus escolhidos não os livrassem por suas orações, seriam tragados por ele”. De um modo especial, porém, Nosso Senhor deseja e exige isso dos sacerdotes e religiosos. Por isso, dizia muitas vezes a santa às suas religiosas: “Irmãs, Deus nos separou do mundo, não somente para fazermos bem a nós mesmas, mas também para procurarmos aplacar a sua ira contra os pecadores”.

 

Entretanto, Nosso Senhor, por bondade e em atenção às orações de seus servos, dignou-se reconduzir ao caminho da salvação mesmo os pecadores mais obcecados e obstinados. Por isso, recorremos sempre a Deus nossas orações aos pecadores ao celebrarmos a Santa Missa, na comunhão, na meditação e na visita ao Santíssimo Sacramento. Rezando pelos outros podemos ser atendidos mais prontamente do que quando rezamos para nós mesmos. E que peçamos graças necessárias à salvação, porque a promessa divina não foi dada para os bens temporais, que não são necessários à salvação da alma. Diz Santo Agostinho: “não se pede em nome do Salvador o que é contrário aos interesses de nossa salvação”.

 

Às vezes, pedimos graças temporais e Deus não nos atende; mas não nos atende porque nos ama e quer usar de misericórdia para conosco, como diz Santo Agostinho: “Quem pede a Deus humilde e confiadamente coisas necessárias para esta vida, ora é ouvido por misericórdia e ora não é atendido por misericórdia; pois, do que o doente tem necessidade, melhor sabe o médico do que o doente”.

 

Quantos, se fossem pobres ou doentes, não cometeriam os pecados que cometem sendo ricos e sadios! Por isso o Senhor nega a alguns, que lhe pedem a saúde do corpo ou os bens da fortuna, porque os ama, vendo que isso lhes seria ocasião de perderem a sua graça, ou ao menos de se entibiarem na vida espiritual. Contudo, não queremos dizer com isso que seja uma falta pedir a Deus as coisas necessárias à vida presente, contanto que estejam em relação com a salvação eterna, como pediu o sábio: “Dai-me, Senhor, unicamente o que for necessário para viver” (Pr 30,8). Não é uma falta, diz Santo Tomás, ter um cuidado moderado por estas coisas; proibido é desejar e procurar estes bens como principais e ter por eles um cuidado demasiado, como se formassem toda a nossa felicidade. Quando pedirmos a Deus bens temporais, devemos pedi-los com resignação e sob a condição de aproveitarem à alma. Se vemos que o Senhor não os concede, tenhamos por certo que os nega pelo amor que nos tem e porque prevê que vão prejudicar à salvação de nossa alma.

 

Quando Deus não atende é sempre para nosso próprio bem. Devemos lembrar o que diz São Bernardo, que, quando pedimos a Deus alguma graça, Ele nos dá a graça pedida ou outra melhor. Deus muitas vezes nos deixa sofrer no meio da tempestade, a fim de provar a nossa fidelidade e para o nosso maior proveito. Parece, então, surdo às nossas orações. Não! Estejamos seguros de que Deus nos ouve e nos ajuda ocultamente, dando-nos forças para resistirmos aos assaltos dos inimigos. Isto Ele nos assegura por boca do Salmista: “Na tribulação me invocaste e te livrei: eu te ouvi no escondido da tempestade; provei-te junto à água da contradição”(Sl 80,8). É sempre bom recordar o que nos ensina Santo Tomás quanto a oração: Que se reze com devoção e perseverança. Com devoção, que dizer, com humildade e confiança; com perseverança, quer dizer, sem deixar de rezar até a morte.
Fonte: A Oração de S. Afonso Maria de Ligório, resumo das páginas 57 a 63.

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