Primeiramente, é preciso entender que Deus não proíbe a confecção de imagens, mas sim proíbe fazer imagens “de ídolos”; isto é, de deuses falsos; mas isso a Igreja Católica nunca fez e nem autorizou fazer. Já no Antigo Testamento o próprio Deus prescreveu a confecção de imagens como querubins, serpente de bronze, leões do palácio de Salomão, etc. A Bíblia defende o uso de imagens como você pode verificar em muitas passagens:
Farás também um propiciatório de ouro puro, com dois côvados e meio de comprimento e um côvado e meio de largura. Farás dois querubins de ouro, de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório; faze-me um dos querubins numa extremidade e o outro na outra farás os querubins formando um só corpo com o propiciatório, nas duas extremidades. Os querubins terão as asas estendidas para cima e protegerão o propiciatório com suas asas, um voltado para o outro. As faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório. Porás o propiciatório em cima da arca; e dentro dela porás o Testemunho que te darei. Ali virei a ti, e, de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins que estão sobre a arca do Testemunho, falarei contigo acerca de tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel. (Ex 25,17-22)
Fez também dois querubins de ouro. De ouro batido os fez nas duas extremidades do propiciatório: um querubim numa extremidade e o outro na extremidade oposta. Ele os fez formando um só conjunto com o propiciatório em ambos os lados dele. Os querubins tinham as asas estendidas para cima e cobriam com suas asas o propiciatório. Estavam com as faces voltadas uma para a outra, olhando para o propiciatório. (Ex 37,7-9)
e Iahweh respondeu-lhe: “Faze uma serpente abrasadora e coloca-a em uma haste. Todo aquele que for mordido e a contemplar viverá.” Moisés, portanto, fez uma serpente de bronze e a colocou em uma haste; se alguém era mordido por uma serpente, contemplava a serpente de bronze e vivia. (Nm 21,8-9)
No Debir, ele fez dois querubins de oliveira selvagem… “Ele tinha dez côvados de altura. Uma asa do querubim tinha cinco côvados e a outra asa do querubim também tinha cinco côvados, ou seja, de uma extremidade à outra das asas havia a distância de dez côvados. O segundo querubim tinha também dez côvados; ambos os querubins tinham a mesma dimensão e o mesmo formato. A altura de um querubim era de dez côvados, e essa também era a altura do outro. Colocou os querubins no meio da sala interior; tinham as asas estendidas, de sorte que a asa de um tocava uma parede e a asa do outro tocava a outra parede e suas asas se tocavam uma na outra, no meio da sala. Revestiu de ouro os querubins. Em todas as paredes do Templo, ao redor, tanto no interior como no exterior, mandou esculpir figuras de querubins, palmas e flores. […] os dois batentes eram de oliveira selvagem. Mandou esculpir neles figuras de querubins, palmeiras e flores e cobriu-as de ouro; mandou cobrir de ouro os querubins e as palmeiras. (1Rs 6,23-29.32)
Com efeito, os querubins estendiam suas asas sobre o lugar da Arca, abrigando a Arca e seus varais. (1Rs 8,7)
os lingotes de ouro fino destinados ao altar dos perfumes. Deu-lhe o modelo do carro divino, dos querubins de ouro com as asas abertas cobrindo a Arca da Aliança de Iahweh, tudo isso segundo o que Iahweh tinha escrito com sua própria mão para tornar compreensível todo o trabalho cujo modelo ele dava. (1Cr 28,18-19)
recobriu com ele a sala, as vigas, os umbrais, as paredes e as portas, e depois mandou esculpir querubins nas paredes. […] Para a sala do Santo dos Santos mandou fazer dois querubins de metal e revestiu-os de ouro. As asas dos querubins tinham vinte côvados de comprimento, tendo cada uma delas cinco côvados e tocando uma na parede da sala e a outra na do outro querubim. Uma das asas de cinco côvados de um querubim tocava na parede da sala; a segunda, de cinco côvados, tocava na asa do outro querubim. As asas desses querubins, estendidas, mediam vinte côvados. Estavam colocados de pé, a face voltada para a Sala. Mandou fazer a Cortina de púrpura violeta e escarlate, de carmesim e de linho puro; e nela mandou bordar querubins. (2Cr 3,7.10-14)
Mesmo quando lhes sobreveio a terrível fúria das feras e pereciam mordidos por serpentes tortuosas, tua cólera não durou até o fim; para que se advertissem, foram assustados um pouco, mas tinham um sinal de salvação para lhes recordar o mandamento da tua Lei, e quem se voltava para ele era salvo, não em virtude do que via, mas graças a ti, o Salvador de todos! Assim convenceste a nossos inimigos de que és tu quem livra de todo mal; (Sb 16,5-8)
por cima da arca, os querubins da glória cobriam com a sua sombra o propiciatório. (Hb 9,5)
Desde a entrada até o interior do Templo, bem como por fora, sobre toda a parede em torno — tanto por dentro como por fora — estavam esculpidos querubins e palmeiras, uma palmeira entre dois querubins. Cada querubim tinha duas faces: uma face de homem voltada para a palmeira de um lado e uma face de leão voltada para a palmeira do outro lado, isso em torno do Templo. Os querubins e as palmeiras estavam esculpidos sobre o muro, desde o chão até em cima da entrada. […] Sobre elas (sobre as portas do Hekal) estavam esculpidos querubins e palmeiras, como os que se encontravam sobre os muros… (Ez 41,17-20 .25)
Será que um lugar repleto de imagens por todo lado é do agrado de Deus? Qual foi a reação de nosso Senhor? Repudiou e mandou destruí-las? – como fariam os iconoclastas – ou repudiou e os acusou de idolatria? – como fariam alguns protestantes – Pelo contrário, Deus deixa claro a aprovação, veja o que nos narra as escrituras:
Ora, quando os sacerdotes saíram do santuário, a Nuvem encheu o Templo de Iahweh e os sacerdotes não puderam continuar o seu serviço, por causa da Nuvem: a glória de Iahweh enchia o Templo de Iahweh! (I Rs 8, 10-11)
Os Profetas condenavam a confecção de imagens de ídolos:
Os que modelam ídolos nada são, as suas obras preciosas não lhes trazem nenhum proveito! Elas são as suas testemunhas, elas que nada vêem e nada sabem, para a sua própria vergonha. Quem fabrica um deus e funde um ídolo que de nada lhe pode valer? […] Os homens o empregam para queimar; ele mesmo tomou dele para aquecer-se; pôs-lhe fogo e assou pães. Com outra parte fez um deus e o adorou, fabricou um ídolo e se prostrou diante dele. Uma metade ele queimou ao fogo; com ela fez um assado, que come até saciar-se. Aquece-se ao fogo e diz: “Que delícia! Aqueci-me e vi a luz.” Com o resto faz um deus — o seu ídolo —, prostra-se diante dele e o adora e lhe dirige súplicas, dizendo: “Salva-me, porque tu és o meu deus.” (Isaias 44, 9-10; 15-17)
Mas o que é um ídolo? É aquilo que: 1 – substitui o único e verdadeiro Deus; 2 – são-lhe atribuídos poderes exclusivamente divinos; e, 3 – são-lhe oferecidos sacrifícios devidos ao verdadeiro Deus. É o que os judeus antigos no deserto fizeram com o bezerro de ouro (cf. Ex 32). Não é o que os católicos fazem. A Igreja Católica nunca afirmou que devemos “adorar” as imagens dos santos; mas, venerá-las, o que é muito diferente.
A imagem é um objeto que apenas lembra a pessoa ali representada; o ídolo, por outro lado, “é o ser em si mesmo”. A quebra de uma imagem não destrói o ser que representa; já a destruição de um ídolo implica da destruição da falsa divindade. Para Deus, e somente Deus, a Igreja presta um culto de adoração (“latria”); nele reconhecemos Deus como Todo-Poderoso e Senhor do universo. Aos santos e anjos, a Igreja presta um culto de veneração (“dulia”); homenagem. A Nossa Senhora, por ser a Mãe de Deus, a Igreja presta um culto de “hiper-dulia”, que não é adoração, mas hiper-veneração. A São José “proto-dulia”, primeira veneração.
A palavra “dulia” vem do grego “doulos” que significa “servidor”. Dulia em português quer dizer reverência, veneração. Latria é adoração; vem do grego “latreia” que significa serviço ou culto prestado a um soberano senhor. Em outras palavras, significa adoração. Veja, então não há como confundir o culto prestado a Deus com o culto prestado aos Santos.
Rogando aos Santos não os olhamos nem consideramos senão como nossos intercessores para com Jesus Cristo, que é o único Medianeiro (cf. 1Tm 2,4) que nos remiu com seu sangue, e por quem podemos alcançar a salvação. A mediação e intercessão dos santos não substituem a única e essencial mediação de Cristo, o único Sacerdote, mas, é uma mediação “através” de Cristo, e não paralela e nem substitutiva. Sem a mediação única de Cristo nenhuma outra tem poder.
A imagem de um santo tem um significado profundo. Quando se olha para uma imagem ela nos lembra de que a pessoa ali representada é santa, viveu conforme a vontade de Deus, então, é um “modelo de vida” para todos. A imagem lembra também que aquela pessoa ali representada está no céu; isto é, na comunhão plena com Deus, goza da chamada “visão beatífica de Deus”; e intercede por nós sem cessar, como reza uma das orações eucarísticas da Missa. São Jerônimo dizia: se aqui na terra os santos em vida rezavam e trabalhavam tanto por nós, quanto mais não o farão no céu, diante de Deus. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia que “ia passar o céu na terra”, isto é, intercedendo pelas pessoas.
O Catecismo da Igreja nos ensina o seguinte no §956:
Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós junto ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por seguinte, pela fraterna solicitude deles, a nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio (LG 49).
A imagem de um santo nos lembra ainda que ele é santo pelo poder e graça de Deus; então, a veneração da imagem dá glória a Deus, mais que ao santo. São Bernardo, doutor da Igreja, sempre que passava por uma imagem de Nossa Senhora dizia: “Salve Maria!”. Um dia, depois de dizer essas palavras, Nossa Senhora lhe disse: “Salve Bernardo!”
Entendido a questão sobre a confecção das imagens, será que é lícito ajoelhar-se e beijar algo (objeto ou criatura) que não é Deus?
Josué então rasgou suas vestes, prostrou-se com a face em terra diante da Arca de Iahweh até à tarde, tanto ele como os anciãos de Israel, e lançaram pó sobre suas cabeças. (Josué 7, 6)
Moisés saiu ao encontro do sogro, inclinou-se diante dele, abraçou-o e indagando pelo bem-estar um do outro, entraram na tenda. (Êxodo 18, 7)
reverenciareis meu santuário. (Levítico 19,30)
Erguendo os olhos, Davi viu o Anjo de Iahweh entre a terra e o céu, tendo na mão a espada desembainhada, voltada contra Jerusalém. Vestidos de panos de saco, Davi e os anciãos prostraram-se com o rosto em terra, (I Crônicas 21, 16)
Como vimos acima, a resposta é clara, e ainda existem muitas outras passagens bíblicas em que homens de Deus se prostraram para algo (objeto ou criatura) que não é Deus. Quando a prostração é feita com o objetivo de adoração, deve ser repreendida, entretanto, em suma, o ato de se prostrar diante de uma imagem não significa adoração, mas sim uma manifestação de reverência, de homenagem, de humildade, de veneração etc. Podemos tocar e beijar as imagens como um gesto de amor, reverência e veneração, não de adoração. Não fazemos isso com a imagem de um ente querido falecido?
Podemos admirar as imagens – por isso elas devem ser bem feitas, em clima de oração – e rezar diante delas, pedindo ao santo ali representado que interceda diante de Deus. É Deus quem faz o milagre, mas o pedido vem dos santos, como nas Bodas de Caná, onde Jesus fez a transformação de 600 litros de água em vinho “porque sua Mãe intercedeu”. Ainda não era a hora dos seus milagres!
A intercessão dos santos é algo maravilhoso. Quando nós precisamos de um favor de uma pessoa importante, mas não conseguimos chegar até ela, então, procuramos um mediador, um intercessor, que seja amigo dessa pessoa, para fazer a ela o nosso pedido. E a pessoa importante a atende por ter intimidade com nosso intercessor. Ora, fazemos o mesmo com Deus. Não temos intimidade com Deus como os santos que já estão na sua glória; nossos pecados limitam nossa intimidade com Deus; então, os santos nos ajudam.
Mas, como os santos podem ouvir todos os pedidos ao mesmo tempo sem que eles tenham a onisciência e a onipresença de Deus? É simples; na vida eterna já não existem mais as realidades terrenas do tempo e espaço; a comunhão perfeita com Deus dá aos santos o conhecimento de nossas orações e pedidos e, na plenitude de Deus, e através Dele, não há a dificuldade de atender a todos ao mesmo tempo, pois já não existe mais esse fator limitador. No céu a realidade é outra.
Alguns perguntam: mas os mortos não estão todos dormindo, aguardando a ressurreição dos mortos? Não. Jesus contou o caso do pobre Lázaro que já estava no seio de Abraão, vivo e salvo, e o rico que sofria as penas eternas. A alma não dorme. No livro de Macabeus (2Mac 15, 11-15) temos a narrativa de Judas Macabeus que teve a visão do sacerdote Onias, já falecido, orando pelo povo judeu.
Por tudo isso, as imagens precisam ser bem feitas, o mais parecidas possível com o santo. Não devemos fazer imagens mal feitas e mal pintadas. Quando não há uma foto ou uma pintura de santos antigos, então é licito que artistas sugiram uma imagem que a Igreja abençoa. Quando uma imagem que foi abençoada se quebra, e não é possível restaurá-la, então, deve ser enterrada, ou destruída, ou colocada em um lugar onde não haja profanação dela. Se for de material combustível pode ser queimada.
O Concílio ecumênico de Nicéia, no ano 789, aprovou o uso de imagens, disse:
Na trilha da doutrina divinamente inspirada de nossos santos Padres e da tradição da Igreja Católica, que sabemos ser a tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda certeza e acerto que as veneráveis e santas imagens, bem como as representações da cruz preciosa e vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, como a de Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos.
São João Damasceno, doutor da Igreja, dizia:
A beleza e a cor das imagens estimulam minha oração. É uma festa para os meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus.
Prof. Felipe Aquino, texto adaptado por Veritatis Catholicus.
Como próximo passo, recomendamos a leitura do estudo a seguir, onde mais questões das imagens e da idolatria são abordadas e respondidas de forma completa, como por exemplo: É possível Deus agir (proteger, curar, etc) por intermédio das imagens? Os primeiros cristãos eram adeptos de imagens sacras? Quando começaram os protestos sobre o uso de imagens e por quê? Por que os protestantes da modernidade também acusam a Igreja Católica de adorar imagens? e mais…