Como Alcançar a Santidade?
Como alcançar a santidade? A resposta pode parecer bastante simples e óbvia, mas o que devemos fazer é amar com a caridade sobrenatural que dá forma a todas as virtudes. Obras grandiosas, como lançar o próprio corpo às chamas ou doar todos os bens aos pobres, só ganham verdadeiro sentido se ordenadas ao amor de Deus. Para ser mais santo, portanto, só existe um caminho: amar a Deus de forma ardente e sincera. Vejamos o que nos aconselham alguns dos grandes santos doutores da Igreja, como Santa Teresa de Jesus e Santo Tomás de Aquino, sobre o que devemos fazer para sermos mais santos:
Santidade é a configuração do nosso coração ao coração de Cristo. Uma pessoa está no caminho de santidade quanto mais o seu coração se vai conformando com o de Cristo, a ponto de ela chegar ao estado de perfeição em que chegou São Paulo, quando disse:
Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. (Gl 2, 20)
A pessoa santa tem um coração que palpita em sintonia com o coração de Cristo e este, por sua vez, é ardente de amor-caridade. Neste ponto, ajuda-nos Santo Tomás de Aquino, explicando que existe uma diferença entre o amor natural e o sobrenatural. O amor natural é aquele da própria natureza humana: amam-se os filhos, os pais, o seu cônjuge etc. Esse amor pode ser abusado, transformando-se em idolatria. Entra, então, a necessidade do amor sobrenatural. A diferença deste para aquele está no objeto formal. A quem se pode amar, com amor sobrenatural? A Deus, a mim mesmo e ao próximo [1]: esses são os objetos materiais do amor. Mas, não basta amar a Deus com amor natural: para amá-Lo sobrenaturalmente, é preciso amá-Lo por causa d’Ele mesmo, ou seja, sem querer nada em recompensa, sem ficar pensando em seu próprio bem, mas “numa total determinação e desejo de contentar a Deus em tudo, […] procurar, o quanto pudermos, não ofendê-lo” [2], como diz Santa Teresa de Ávila. Da mesma forma, como quando se ama a si mesmo e ao próximo: deve-se fazê-lo por um único objeto formal, que é Deus.
Nisso consiste o amor. E é crescer nesse amor o que nos faz crescer em santidade. Algumas pessoas pensam que a santidade significa fazer coisas heroicas, mas o Aquinate, em um de seus escritos [3], esclarece que, na realidade, não é o árduo em uma obra o que nos torna santos, mas a caridade. Se fazemos uma pequena obra – a oração de uma Ave-Maria, por exemplo –, mas a fazemos com caridade ardente por Deus, estamos empreendendo algo muito mais valioso do que se lançássemos o nosso corpo às chamas ou déssemos todos os nossos bens aos pobres, mas os fizéssemos sem caridade [4]. De nada adianta, no caminho da santidade, transformar-se em um faquir, fazer grandes sacrifícios, mas se esquecer da caridade. É a caridade que dá forma a todas as virtudes, diz São Tomás [5]. Se a caridade estiver ausente, de alguma forma essas virtudes serão deformadas.
Para ser mais santo, portanto, só existe um caminho: amar a Deus de forma ardente e sincera. Santa Teresa de Ávila, em seu Castelo Interior, recorda que é isso o que se deve fazer para entrar nas moradas interiores:
Para aproveitar neste caminho e subir às moradas desejadas, o essencial não é pensar muito – é amar muito. Escolhei de preferência o que mais vos conduzir ao amor. […] Talvez nem saibamos o que é amar, o que não me espanta. Não consiste o amor em ser favorecido de consolações. Consiste, sim, numa total determinação e desejo de contentar a Deus em tudo, em procurar, o quanto pudermos, não ofendê-lo e rogar-lhe pelo aumento contínuo da honra e glória de seu Filho e pela prosperidade da Igreja Católica. (Santa Teresa de Jesus, Castelo Interior ou Moradas, Quartas Moradas, capítulo 1, n. 7. In São Paulo: Paulus, 2014. p. 75)
Eis acima, em poucas palavras, o que devemos fazer para sermos mais santos.
Referências bibliográficas
1 – Cf. Suma Teológica, II-II, q. 25, a. 12
2 – Santa Teresa de Jesus, Castelo Interior ou Moradas, Quartas Moradas, capítulo 1, n. 7. In São Paulo: Paulus, 2014. p. 75
3 – Trata-se da obra “Comentários Sobre as Sentenças de Pedro Lombardo”.
4 – Cf. 1 Cor 13, 3
5 – Cf. Suma Teológica, II-II, q. 23, a. 8
Padre Paulo Ricardo, texto adaptado por Veritatis Catholicus.